Galeria da Literatura
Augusto dos Anjos
Nascimento: 20/04/1884
Morte: 12/11/1914
BIOGRAFIA
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu em Sapé, a 20 de abril de 1884, no Engenho Pau d’Arco (atual Usina Santa Helena), na época, pertencendo ao município de Espirito Santo. Era filho de Alexandre Rodrigues dos Anjos e Córdula Fernandes de Carvalho. Pelo ramo materno, descendia de velha e tradicional família da várzea do Rio Paraíba, seu avô, o Bacharel João Antônio Fernandes de Carvalho, foi Deputado Provincial, Oficial da Ordem da Rosa e prócer conservador em Pilar. Em 1859, hospedou, no Engenho Pau d’Arco, o Imperador Pedro II e sua comitiva, de passagem para Mamanguape.
Humberto Nóbrega, em seu discurso de posse na Academia Paraibana de Letras, fala dos ancestrais do consagrado poeta, relembrando velhos nomes dos Fernandes de Carvalho e dos Sanches Massa, estes últimos mais conhecidos como família Pacatuba. Do ramo paterno, evocou nomes ligados aos fatos da hist6ria política de Pernambuco. Seu pai, o Bacharel Alexandre Rodrigues dos Anjos Júnior era natural de Recife. Chegou à Paraíba como Juiz Municipal de Pedras de Fogo, fixando-se depois, no Engenho Pau d’ Arco, onde viveu os seus últimos anos. Descendia do português Manoel Rodrigues dos Anjos, nascido no Funchal, em 1763.
No Engenho Pau d’ Arco, iniciou Augusto dos Anjos os seus estudos, recebendo do pai os ensinamentos que marcaram profundamente a sua obra poética. Para José Américo de Almeida, o duro aprendizado a que foi submetido criou o “ËU”, fechando-o, ainda menino, na introspecção que ficou como uma das suas características. “O Pai, homem instruído, versado nas humanidades era o mestre. Pai professor tem uma dupla autoridade, principalmente, descobrindo no filho uma centelha. Puxou por ele. O menino tomou gosto pelo estudo, porque era essa a sua natureza e ficou sério. Perdeu a meninice antes de perder a inocência.”
Saiu do Engenho para os exames preparatórios do Lyceu Paraibano, onde Orris Soares o viu como “um pássaro molhado, todo encolhido nas asas”. Começou a ser notado pelos colegas, tanto pelo temperamento arredio coma pela universidade dos seus conhecimentos. Alguns, que dele se aproximaram, perceberam algo de estranho nos versos excêntricos que fugiam ao convencionalismo das escolas dominantes. Suas primeiras produções foram recebidas com reservas. Eram novidades que não animavam a uma critica ou apreciação.
Bacharel em Direito pela Faculdade do Recife, retornou à Paraíba. O engenho, decadente e arruinado, não o atraiu. Não quis enveredar por nenhuma das atividades jurídicas facultadas pelo seu diploma. Preferiu o magistério, foi nomeado professor de Literatura Brasileira do Lyceu Paraibano, tornando-se um nome conhecido nos meios literários da cidade. Os jornais iam publicando os seus versos. Em 1909, pronunciou uma conferência sobre os escravos no Teatro Santa Roza. E, apesar de sua conhecida e proclamada misantropia, ainda colaborando em jornais, explorando a brejeirice da musa jocosa que movimenta os festejos da padroeira. Até anúncios comerciais, em versa, deixou sair nas paginas do NONEVAR, conforme a surpreendente revelação de HumbertoNóbrega.
Em 1909, o poeta tenta uma licença para viajar ao Rio de Janeiro. O Presidente João Machado não acolhe o pedido, sob a alegação de que a sua condição de professor interino não lhe permitia o afastamento temporário do cargo, mesmo em gozo de licença, o que provocou sério incidente com o governador paraibano e, consequentemente, a sua definitiva transferencia para a antiga capital do pais. No Rio, enfrentou serias dificuldades como professor particular, integrando,, depois, o corpo docente do Colégio Pedro II e o da Escola Normal.
Desacreditado por alguns intelectuais de renome, como o poeta Olavo Bilac, que não enxergou nenhum mérito em sua poesia, sentiu-se abatido pela indiferença dos editores que não se interessaram pela publicação do “EU” (seu único livro). Depois de várias tentativas, conseguiu editá-lo. À edição princeps, de I912, seguiram-se numerosas reedições que o consagraram, atualmente, como o mais reeditado dos poetas brasileiros.
Esgotado pela vida difícil que levara no Rio de Janeiro, sentiu minar-se, dia a dia, a sua resistência orgânica, o que o obrigou a recorrer a um clima que lhe restaurasse as energias gastas nas canseiras do magistério. Arranjaram-lhe um emprego, em Minas Gerais, e para lá se transferiu, em 1914, como Diretor do Grupo Escolar Ribeiro Junqueira, em Leopoldina. De nada valeu esse esforço pela recuperação de sua saúde, falecendo, naquela cidade, a 12 de novembro de 1914, vitimado por uma pneumonia.
É patrono da cadeira nº 1 da Academia Paraibana de Letras, que teve como fundador o jurista e ensaísta José Flósculo da Nóbrega e como primeiro ocupante o seu biógrafo Humberto Nóbrega, sendo ocupada, atualmente, por Waldemar Bispo Duarte.
Auto-epítetos
Poeta da morte
Poeta do hediondo
Poeta da Anti-Hipocrisia
Curiosidades biográficas
Um personagem constante em seus poemas é um pé de tamarindo que ainda hoje existe no Engenho Pau d'Arco.
Seu amigo Órris Soares conta que Augusto dos Anjos costumava compor "de cabeça", enquanto gesticulava e pronunciava os versos de forma excênctrica, e só depois transcrevia o poema para o papel.
De acordo com Eudes Barros, quando morava no Rio de Janeiro com a irmã, Augusto dos Anjos costumava compor no quintal da casa, em voz alta, o que fazia sua irmã pensar que era doido.
Embora tenha morrido de pneumonia, tornou-se conhecida a história de que Augusto dos Anjos morreu de tuberculose, talvez porque esta doença seja bastante mencionada em seus poemas.
Obra poética
A poesia brasileira estava dominada por simbolismo e parnasianismo, dos quais o poeta paraibano herdou algumas características formais, mas não de conteúdo. A incapacidade do homem de expressar sua essência através da “língua paralítica” (Anjos, p. 204) e a tentativa de usar o verso para expressar da forma mais crua a realidade seriam sua apropriação do trabalho exaustivo com o verso feito pelo poeta parnasiano. A erudição usada apenas para repetir o modelo formal clássico é rompida por Augusto dos Anjos, que se preocupa em utilizar a forma clássica com um conteúdo que a subverte, através de uma tensão que repudia e é atraída pela ciência.
A obra de Augusto dos Anjos pode ser dividida, não com rigor, em três fases, a primeira sendo muito influenciada pelo simbolismo e sem a originalidade que marcaria as posteriores. A essa fase pertencem Saudade e Versos Íntimos. A segunda possui o caráter de sua visão de mundo peculiar. Um exemplo dessa fase é o famigerado soneto Psicologia de um Vencido. A última corresponde a sua produção mais complexa e madura, que inclui Ao Luar.
Sua poesia chocou a muitos, principalmente aos poetas parnasianos, mas hoje é um dos poetas brasileiros que mais foram reeditados. Sua popularidade se deveu principalmente ao sucesso entre as camadas populares brasileiras e à divulgação feita pelos modernistas.
Hoje em dia diversas editoras brasileiras publicam edições de Eu e Outros Poemas.
Crítica literária
Sua linguagem orgânica, muitas vezes cientificista e agressivamente crua, mas sempre com ritmados jogos de palavras, idéias, e rimas geniais, causava repulsa na crítica e no grande público da época. Eu somente apresentou grande vendagem anos após a sua morte.
Muitas divergências há entre os críticos de Augusto dos Anjos quanto à apreciação de sua obra e suas posições são geralmente extremas. De qualquer forma, seja por ácidas críticas destrutivas, seja através de entusiasmos exaltados de sua obra poética, Augusto dos Anjos está longe de passar despercebido.
Abordagem biográfica
O aspecto melancólico da sua poesia, que a marca profundamente, é interpretado de diversas maneiras. Uma vertente de críticos, na qual se inclui Ferreira Gullar, fundamenta a melancolia da obra na biografia do homem Augusto dos Anjos. Para Gullar, as condições de nossa cultura dependente dificultam uma expressão literária como a de Augusto dos Anjos, em que se rompe com a imitação extemporânea da literatura européia. Essa ruptura de Augusto dos Anjos ter-se-ia dado menos por uma crítica à literatura do que por uma visão existencial, fruto de sua experiência pessoal e temperamento, que tentou expressar na forma de poesia. A poesia de Augusto dos Anjos é caracterizada por Gullar como apresentando aspectos da poesia moderna: vocabulário prosaico misturado a termos poéticos e científicos; demonstração dos sentimentos e dos fenômenos não através de signos abstratos, mas de objetos e ações cotidianas; a adjetivação e situações inusitadas, que transmitem uma sensação de perplexidade. Ele compara a miscigenação de vocabulário popular com termos eruditos do poeta ao mesmo uso que faz Graciliano Ramos. Descreve ainda os recursos estilísticos pelos quais Augusto dos Anjos tematiza a morte, que é personagem central de sua poesia, e o compara a João Cabral de Melo Neto, para quem a morte é apresentada de forma crua e natural.
Abordagem psicanalítica
Outros, Como Chico Viana, procuram explicar a melancolia através dos conceitos psicanalíticos. Para Sigmund Freud, a melancolia é um sentimento parecido com o luto, mas se caracteriza pelo desconhecimento do melancólico a respeito do objeto perdido. A origem da melancolia da poesia de Augusto dos Anjos estaria, para alguns críticos, em reflexões de influências politica com os problemas de sua família, e num conflito edipiano de sua infância.
Abordagem bloomiana
Há ainda aqueles que tentam analisar a poesia de Augusto dos Anjos baseada em sua criatividade como artista, de acordo com o conceito da melancolia da criatividade do crítico literário norte-americano Harold Bloom. O artista seria plenamente consciente de sua capacidade como poeta e de seu potencial para realizar uma grande obra, manifestando, assim, o fenômeno da "maldição do tardio". Sua melancolia viria da dificuldade de superar os “mestres” e realizar algo novo. Sandra Erickson publicou um livro sobre a melancolia da criatividade na obra de Augusto dos Anjos, no qual chama especial atenção para a natureza sublime da poética do poeta e sua genial apropriação da tradição ocidental. Segundo a autora, o soneto é a égide do poeta e, munido dele, Augusto dos Anjos consegue se inserir entre os grandes da tradição ocidental.
Unanimidades
De forma geral, no entanto, sua poesia é reconhecidamente original. Para Álvaro Lins e para Carlos Burlamaqui Kopke, sua singularidade está ligada à solidão, que também caracteriza sua angústia. Eudes Barros, em seu livro A Poesia de Augusto dos Anjos: uma Análise de Psicologia e Estilo, nota o uso inusitado dos adjetivos por Augusto dos Anjos, e qualifica seus substantivos como extremamente sinestésicos, criando dimensões desconhecidas para a adjetivação convencional. Manuel Bandeira destaca o uso das sinéreses como forma de representar a impossibilidade da língua, ou da matéria, para expressar os ideais do espírito. Portanto, os recursos estilísticos de Augusto dos Anjos se reconhecem como geniais.
As imagens da obra poética de Augusto dos Anjos se caracterizam pela teratologia exacerbada, por imagens de dor, horror e morte. O uso da racionalidade, e assim da ciência, seria uma forma de superar a angústia da materialidade e dos sentimentos. Mas a Ciência, que marca fortemente sua poesia, seja como valorizada ou através de termos e conceitos científicos, também lhe traz sofrimento, como nota Kopke. É marcante também a repetição de temas nessa poesia, e um sentimento de solidariedade universal, ligado à desumanização da natureza e até do próprio humano, o que reduziria todos os seres a uma só condição.
Os contrastes peculiarizam seus temas. Idealismo e materialismo, dualismo e monismo, heterogeneidade e homogeneidade, amor e dor, morte e vida, “Tudo convém para o homem ser completo”, como diz o próprio poeta em Contrastes.
Curiosidades da obra literária
Um exemplar do Eu faz parte da biblioteca da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, por causa dos termos científicos que Augusto dos Anjos utilizava em suas composições.
"Eu e outras poesias" (disponível gratuitamente em PDF) é a reunião do livro "Eu" (publicado em vida) a outras poesias que foram acrescentadas postumamente à obra.
Referências:
ACADEMIA PARAIBANA DE LETRAS. Disponível em: http://www.aplpb.com.br/?page_id=53. Acesso em 02 de set. de 2012.
AUGUSTO DOS ANJOS. Disponível em: http://augusto-dosanjos.blogspot.com.br/2009/07/augusto-dos-anjos-biografia.html. Acesso em 02 de set. de 2012.
PORTAL SÃO FRANCISCO. Disponível em: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/augusto-dos-anjos/augusto-dos-anjos-7.php. Acesso em 03 de set. de 2012.
Pesquisa: Maria Cláudia Leite Dias - Produtora Cultural